Friday, March 15, 2013

Trama Virtual - 茶/player2wins

Conversamos: Tiago Frúgoli 17/01/2012

O músico e produtor paulistano falou sobre seus novos projetos!

Por: Ricardo Tibiu


Tiago Frúgoli - foto: acervo pessoal
O músico e produtor paulistano Tiago Frúgoli despontou no hip hop com Progressivo, em 2009, mesmo ano que lançou Pós-Gressivo. De lá pra cá muita coisa mudou, a começar pelo Rump que usava como nome e rolou um desapego. Mas os beats e as rimas continuam fugindo do lugar comum. Em 2011, foram lançados dois trampos: e Player 2 Wins - neste último ele rima sobre bases produzidas por Henrique Rezende. Conversamos com Tiago para saber um pouco mais dos projetos e planos dele. Aprecie a entrevista (e o som) como um bom chá, leia e entenda!

Você abandonou o Rump do nome?
Antes de tudo, gostaria de agradecer à TramaVirtual pelo espaço! Não sei, chegou um momento em que achei que fazia sentido usar meu nome mesmo. Só estou pensando nisso agora, mas talvez tenha a ver com um movimento que tive de deixar a minha música mais crua também, com menos ornamentos. Várias faixas desse último disco podem soar incompletas, como se fossem demos que não foram terminadas.



O quê significa , do nome do disco?
Chá. Tem a ideia de criar um momento de tranquilidade. Não faz sentido tomar chá com pressa, você toma chá para ter aquele momento, sentir o calor da água, o cheiro das ervas... A ideia é que o som sirva para criar um momento em que você pare e escute tranquilamente.

E a faixa ?
É o nome japonês da minha namorada. Fiz a música para ela, só depois resolvi colocar no projeto.



Queria que você falasse um pouco da produção e do processo de gravação deste novo trampo. Como foi?
Tudo em casa. Aliás, a bateria de “Dança da Chuva”, foi na sala de ensaio do El Rocha, com meu próprio laptop e só um microfone. Mas fora isso, tudo em casa, provavelmente ao longo de mais de um ano, sem pressa para fechar o projeto, nem forçar a criatividade.

Você despontou no hip hop, onde você acha que seu som se enquadraria melhor hoje?
Não sei, quando idealizo um projeto penso mais no processo de criação do que no gênero no qual ele vai se encaixar. Minha idéia para o era, de certo modo, continuar o que fiz no Sincronicidade, que foi fazer todos os beats tocando, sem usar samples. Mas, dessa vez experimentei mais com o baixo elétrico e timbres específicos de bateria, trabalhando com andamentos que não são necessariamente característicos do hip hop.

Este disco não poderia ser feito sem a influência de quem?
Radiohead, Herbie Hancock, Daft Punk, Mndsgn, Shuggie Otis, Soulquarians...



De Progressivo, de 2009, para hoje, o que você viu de mudanças positivas e negativas na música independente brasileira?
De 2009 para hoje, percebi, na verdade, que estar antenado a tudo que acontece na cena me ajuda menos do que focar especificamente na música. Não estou dizendo que não acho que está acontecendo nada de interessante, nem que essa minha atitude me coloque acima de alguém, de maneira nenhuma. Mas o excesso de informação distrai muito, e não me ajuda a responder as perguntas reais que tenho em relação à música.


Os discos saíram somente virtual ou físico também?
Os dois projetos saíram juntos, no mesmo CD, que eu mesmo mando imprimir e gravo. Está a venda na Colex Oficial, na loja física (R. 24 de Maio, 116. Loja 33, Galeria Presidente) e na virtual.



Como produtor, o quê você andou vendo de bom por aí?
J*Davey, Jay Electronica, Little Dragon, Kev Brown, Sa-Ra Creative Partners...

Quais são os próximos planos?
O primeiro é o show de lançamento do CD, onde estarei acompanhado por Henrique Rezende (que produziu as bases de Player 2 Wins) e Tiago Gordo, no Centro Cultural Rio Verde (Rua Belmiro Braga, 181, Vila Madalena), no dia 02 de fevereiro. Para além disso, a ideia é continuar estudando piano, dando aulas, gravando e, quando fizer sentido, lançar algum novo projeto.


Para ouvir e/ou baixar!

Trama Virtual - Sincronicidade EP

Sincronizando Rump 02/12/2009

Tiago Frúgoli, o progressivo Rump, lança EP que o coloca entre os principais nomes da nova safra do hip hop; baixe e confira entrevista

Por: Enrico Vacaro

Sincronicidade é o novo EP de Tiago Frúgoli, o Rump, músico e produtor paulistano. Apresentamos ele na seção Holofote, publicado no começo do ano, quando ele já tinha lançado, além de sua mixtape de estreia, Beats, Samples & Transições, dois álbuns: Progressivo e Pós-Gressivo, o segundo uma compilação de remixes do primeiro.

Através de Sincronicidade, EP - com cara de LP, já que são 12 faixas e 25 minutos – que Rump lançou nesta semana, com exclusividade TramaVirtual, o músico revela ter alcançado um novo estágio, não só como rimador, mas também como produtor. Temas mais melódicos, que não são obrigatoriamente presos a rimas, são freqüentes em Sincronicidade. Além disso, o EP é recheado de faixas instrumentais nas quais Rump toca teclado, produzindo batidas e melodias que criam ambientações ora puxadas pro eletrônico ora para o black/soul.

Professor de piano, estudante de mandarim e, principalmente, de hip hop, Rump continua sendo o progressivo de sempre, seguindo o lema de seu álbum do ano passado e negando de todas as formas a comodidade em que muitas vezes o hip hop nacional se apoia.

Baixe o EP aqui e leia a entrevista respondida por Tiago.


Primeiro você lançou o Progressivo, depois o Pós-Gressivo e agora o Sincronicidade. O que está por trás do nome e como o conceito dele se relaciona com os primeiros?
É engraçado, por que sempre tive certeza de que Sincronicidade seria o nome do disco, por causa de coisas que eu estava vivendo, mas não fiz nenhuma faixa com esse nome, nem falo essa palavra em nenhuma letra. É como se as músicas que fiz fossem uma espécie de estudo sobre a sincronicidade, mas de maneira bem indireta. No caso do Progressivo, tinha mais a ver com eu estar buscando rumos novos na música que faço. Pós-Gressivo foi só uma brincadeira com o nome, já que não era um álbum em si, mas uma compilação de remixes do disco anterior, faixas que não tinham entrado e algumas outras coisas.

O disco tem 12 faixas em pouco mais de 25 minutos. É um EP que é quase um LP? Como foi a concepção do disco em relação a seu formato?
É engraçado como o conceito mudou, mas, se você notar, depois que o CD passou a ser a mídia principal de música, todo álbum que era lançado em LP era duplo. Os 80 minutos do CD não cabem em um vinil só. E um EP é geralmente lançado em um vinil de 12 polegadas, como eram os álbuns de antigamente. Mas na verdade tudo isso importa cada vez menos. Quando o meio principal passa a ser a internet (e não estou dizendo necessariamente que já passou) todo esse conceito de álbum e limite de tempo muda de novo. Acredito que os singles vão ganhar mais força de novo, mas a verdade é que cresci ouvindo discos, álbuns completos, e gosto de produzir coisas nesse formato. Existem sons que fazem sentidos sozinhos, e outros que ganham força dentro de um contexto, como parte de uma história. Coloquei o nome de EP por que é mais curto do que a média dos álbuns de hoje.

Há em Sincronicidade temas mais melódicos do que nos álbuns anteriores, alguns até com vocais de vocoder. Esse é o caminho que mais te interessa hoje?
Eu sempre ouvi outras coisas além de Hip-Hop, e sempre tive vontade de gravar coisas diferentes. Não estou tentando reinventar o Hip-Hop, nem acho que quem faz RAP puro hoje em dia esteja limitado, só estou fazendo o que é mais natural para mim. Do mesmo jeito que gosto de Dilla e Pete Rock, gosto de Beatles e Stevie Wonder, então é natural que eu inclua elementos diferentes na minha música. Só estou tentando fazer o som que gosto de ouvir, desde o começo até hoje.

Qual é a história de D.R.E.A.M.? É um homenagem ao Wu-Tang Clan?
Legal, nem todo mundo pega essa referência. Na real, o que rolou foi o seguinte: eu sonhei com a melodia principal da base. Sonhei que estava cantando a melodia para umas amigas tocarem numa espécie de violão. E a última nota sai da escala, então eu tinha que chamar a atenção delas pra isso. Quando acordei, lembrei da melodia e resolvi gravar um beat com ela. Nunca gravo beats pensando que já vão pro disco, ou mesmo que vou rimar neles. Salvei o arquivo com o nome "dream", e quando fiz a letra resolvi fazer o refrão em referência ao som do Wu-Tang ("Cash Rules Everything Around Me...") e pontuar o título do mesmo jeito. Mas meus sons são cheios disso, referências empilhadas. Desconstruo uma rima do Espião, pego uma frase batida e troco as palavras, repito algo que ouvi num filme ou no ônibus...

Você ouve muito J Dilla e Madlib e está bastante envolvido com produção musical, de uma maneira que é rara em jovens da sua idade. Como produtor, qual foi sua evolução nos últimos anos?
Já falei em outras entrevistas que "bom" e "ruim", "melhor" e "pior" são conceitos relativos. Alguém pode achar que estou expandindo horizontes com esse EP, enquanto outra pessoa pode reclamar que menos da metade das faixas têm rimas, e perguntar o que uma faixa como "Not Enough" está fazendo lá. O que posso dizer é que venho me sentindo mais seguro. Enxergo com cada vez mais clareza que confiar no próprio ouvido é o mais importante. Ainda me sinto começando uma longa jornada de aprendizado nessa área, mas acho que quanto mais cedo as pesoas que querem fazer música perceberem isso, melhor. Existe uma visão que é só sua. Um jeito de ouvir as coisas e arranjar elementos que é só seu. Podemos aceitar isso ou passar a vida brigando com isso. Sinto que a maior parte dos músicos que chamamos diariamente de gênios foram pessoas que aceitaram o próprio modo de pensar a sua arte e não tiveram receio de mostrar sua visão para o mundo.

O disco tem várias faixas instrumentais. Como é o seu método de composição? Todas elas nascem instrumentais e algumas ganham rimas ou você já compõe pensando se haverá ou não vocal?
Como disse antes, não penso nem se vai para o disco ou não, nem se vou rimar ou cantar em cima. Se eu ficar planejando muito em cima de algo que está nascendo, mato a possibilidade de criar algo que vou gostar. Meus melhores beats vêm da descontração. Não quero dizer com isso que produzir não exija esforço. É sim necessário perder muito tempo, seja para aprender a achar os acordes no teclado, seja para sacar como tirar o som de bateria que você quer, como cortar samples... Mas sinto que na hora de produzir, o melhor é só focar em como posso juntar aqueles sons para criar algo que me agrade.

Você tem o costume de fazer vídeos com bastidores das gravações e teaser dos álbuns, o que eu acho bem bacana. Como eles têm te ajudado?
Acho que dão uma ajuda na divulgação. Interação entre mídias diferentes é o nome de jogo hoje. Algumas pessoas não entram num site de um artista que não conhecem para ouvir a música, mas até dão um play num vídeo postado num blog para ver do que se trata. Mas, mais do que por isso, faço os vídeos porque gosto de compartilhar um pouco dos bastidores da música que apresento. Hoje você não precisa necessariamente fazer um documentário de 1h30 e lançar um DVD. Você pode fazer vídeos de 3 ou 5 minutos, que você filma num dia, edita no segundo e as pessoas assistem no terceiro.

Planos para 2010?
Mais beats (independente dos projetos que forem ou não lançados), dar mais aulas de música, fazer mais aulas de música, aprender mais ideogramas chineses, passar mais tempo com a namorada... Continuar fazendo a música que gosto. Trabalhei na trilha de um curta há alguns meses, gostaria de pegar mais trampos assim também.



Fotos por Marina Frúgoli

Trama Virtual - Progressivo

Holofote – O Progressivo 09/03/2009

Produtor e MC, paulistano Rump é uma das principais apostas do novo hip hop

Por: Enrico Vacaro

Sob a alcunha de Rump, o produtor e MC Tiago Frúgoli despontou no ano passado como uma das principais promessas da cena hip hop alternativa baseada em São Paulo. Isso por causa de Progressivo, seu disco de estréia, gravado no estúdio da YB, onde Rump estagiou por um tempo. Ele é o responsável por todas as programações e grande parte dos teclados e sintetizadores presentes no álbum, que ainda trouxe participações de Mamelo Sound System e Espião (Rua de Baixo) – o disco está inteiro disponível para baixar na página dele.

Nascido e criado no reduto Pinheiros/Vila Madalena - que apesar de sua abertura para outros povos ainda guarda um pouco do espírito artístico-bohêmio propício para promover encontros como o de fãs de hip hop, - o rapaz começou cedo, quando tinha 14 anos. Agora, com 22, conta com um álbum e duas mixtapes na discografia.. É intrigante a vocação multi-tarefas de Tiago, que além de se dedicar às rimas, produz, toca teclado, sintetizadores e ainda compõe beats para os amigos. Inspirado pelos mestres J Dilla e Madlib, se jogou sozinho neste meio e desde cedo chamou a atenção de gente de respeito da cena hip hop, como Parteum, Espião, Munhoz e Rodrigo Audiolandro (Mamelo Sound System), com quem já fez várias parcerias.

O trabalho de Rump como produtor ganhou maior projeção no ano passado, com o lançamento de Urbanidades, disco de estréia do Projeto Mananda, um dos principais nomes do atual hip hop paulistano. Tiago contribuiu com o beat de “Um Por Todos”, uma das melhores do disco, no qual samplea Elis Regina numa base grandiosa.

Além da música, o MC, que um dia já se dedicou à capoeira, estuda chinês e, aqui, tem o costume de relatar suas inspirações.

Confira entrevista com Rump.

Como você começou?
Difícil dizer. Sou fascinado por música desde antes de começar a falar. Sempre ouvi meu avô tocando piano. Então é um longo processo que resulta em cada faixa que eu gravo hoje. Comecei a fazer rimas em 2001, por diversão. Em 2002 fiz meus primeiros beats, quando fazia estágio no estúdio YB. Eu já tinha estudado um pouco de música, mas isso só virou minha atividade principal em 2005.

Principais influências
J Dilla, Stevie Wonder, The Beatles, Herbie Hancock, Rakim, diversos filmes, livros e quadrinhos, minha namorada, minha família, meus avós, meus amigos.

Como define seu som?
Não posso realmente defini-lo, não tenho distanciamento para isso. É como tentar definir a mim mesmo. Talvez uma definição boa seja: um reflexo distorcido de tudo que vivo e toda arte que consumo.

Por que vale a pena ouvir você?
Não posso garantir que valha a pena para todo mundo, isso é relativo. Talvez parecesse mais lógico eu usar essa questão para promover meu trabalho, mas a verdade é: tudo que faço é muito pessoal. Meu compromisso quando gravo é comigo mesmo, com meus próprios padrões e minhas próprias exigências. É natural que algumas pessoas gostem mais do que outras de algo tão particular, mas sinto que a única maneira de tocar um ouvinte profundamente é fazendo algo que seja profundo para mim.

Você toca por quê?
Porque preciso, porque me faz bem. É um jeito de processar tudo o que vivo. Parte do que toco vira gravações. Eventualmente, junto parte das minhas gravações e as torno públicas.

Você tem algum CD ou EP gravados? Conte.
Coloquei na rua a mixtape "Beats, Samples & Transições" em 2006. Em 2008, o álbum "Progressivo". Na segunda metade de 2008 coloquei na internet a mixtape digital "Pós-Gressivo". "Progressivo" e "Pós-Gressivo" estão disponíveis na minha página da Trama Virtual.

Planos para o futuro
Continuar estudando música, produzindo meus sons e sons de outras pessoas e dando aulas. Tenho vontade de trabalhar com outros estilos além de Hip-Hop e de fazer trilhas.

Uma idéia de show ideal
Eu sou mais do tipo que sonha com o estúdio ideal, mas acho que o show ideal é um show no qual o equipamento de som é bom e o público está envolvido com o artista do começo até o final, independente de ser um show para 30 ou 3000 pessoas.

O que aconteceu de mais legal na sua carreira até agora?
Acho que o mais gratificante é saber que seu som faz bem para alguém. Cada vez que recebo um feedback sincero de alguém que me mostra isso, fico muito feliz. Fico feliz também de receber retornos positivos de pessoas que admiro.

Moleques se reúnem depois da escola e dali nascem bandas. Como é começar (cantando e produzindo), com a idade que você começou, no hip hop?
Eu comecei a rimar com 3 amigos do colégio. Saíamos juntos para fazer graffiti na época. Cada um tomou um outro rumo num ponto, mas até hoje sou influenciado pelo som que tirava com eles. Um deles faz graffiti ainda. Comecei quando tive vontade. A coisa vai mudando de cara. Me dei conta recentemente que nunca mais fiz freestyle numa roda na rua, estou sempre rimando com a porta do meu quarto fechada. Minhas rimas hoje são mais sérias do que antes. Isso não é necessariamente melhor ou pior. Como disse antes, é um reflexo do meu momento.

Para onde caminha o hip hop paulistano?
Eu gosto da introdução do primeiro álbum do Mos Def, na qual ele fala que "o Hip-Hop sou eu, você, todos nós. Então, da próxima vez que você se perguntar para onde vai o Hip-Hop, se pergunte: “Para onde eu estou indo?”, “Como eu estou?”. O Hip-Hop vai para onde as pessoas que o compõe forem. Eu só posso falar por mim mesmo, e não sou representativo. Sigo meu próprio caminho. Enquanto o que faço for chamado de Hip-Hop, muito bem. Quando não for, que me dêem outro nome, isso não é importante.

Conte como é sua relação com nomes importantes da cena hip hop, como Parteum, Rodrigo Audiolandro, Espião, entre outros?
Os três já eram fonte de inspiração antes de serem meus amigos, por serem músicos talentosos, criativos e inovadores. O Espião e o Rodrigo gravaram comigo no Progressivo. Os três têm alguma influência no meu som, pela música que fazem e pelas idéias que trocamos.